Cartas para meu filho – Esse tal de futebol

Poderia começar dizendo que é como um vício, um vírus, uma coisa sub-reptícia que quando tu menos espera transforma tua maneira de dividir o tempo e de entender o mundo. Mas assim foi pra mim e para tantos outros apaixonados por esse esporte ao redor do planeta e ao passar das décadas. Não necessariamente vai ser pra ti. Não pretendo já começar te empurrando uma paixão fabricada (virão várias, vai por mim).

A questão é a seguinte: para entender o lugar em que tu vais nascer e a dinâmica familiar/comunitária em que tu vais estar inserido, compreender o futebol será tão importante quanto entender qualquer outra dinâmica social. Faz parte do ar, não dá pra escapar. No país em que tu vais crescer, expressões como “show de bola” e “jogou pra torcida” são tão usadas quanto gírias que fazem alusão a comidas e comportamentos. Esse é o tanto que o futebol faz parte do nosso cotidiano.

O mais comum, resumido e acurado que eu posso te dizer no momento é que o futebol é o microcosmo da vida. As relações de força, persuasão, de poder, de cooperação, de confiança e de amizade que se formam nas práticas que envolvem este esporte – desde jogar até torcer – são tão relevantes quanto as intrigas, a dissimulação, a raiva, a incapacidade e a impotência frente ao “monstro” (aqui tu podes escolher: o adversário, as corporações, o governo, a máquina, a tua família…).

Não te preocupas, nada disso é muito consciente. Vamos aprendendo conforme vamos existindo, e cada um tem seu tempo. A graça da coisa é vivenciar os momentos, tu vais perceber.

Por ora era isso. Tu vais ser brasileiro, latino-americano e por essas bandas chutar um objeto esférico é uma coisa importante. Não julgue se isso é irracional ou bobo. Afinal, o que não é, né? Só não perca a chance de perceber o que isso desperta nas gentes.

O futebol, como a vida, é cheio de som e fúria – e teu pai adora!