Febre de Bola, de Nick Hornby

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Um assunto diferente, para variar…

Um ex-amigo tinha uma prática incomum, mas que eu achava interessante: comprar um livro e não ler. Deixar o objeto na estante, até que tu tenhas o ESTOFO necessário para compreender seu conteúdo. É o que eu faço com os livros do Nick Hornby. Não pela dificuldade do conteúdo, ou por não ser MADURO o suficiente para compreender o que está sendo dito. Faço por uma outra razão qualquer, que me escapa no momento.

Finalmente li Febre de Bola (Fever Pitch, de Nick Hornby, 1992). E é muito mais foda do que eu esperava. Agora ele voltará pra estante, e será relido daqui uns 5 anos. Fique com alguns trechos da obra:


“Perto do final do jogo fui me retesando à espera da tristeza que eu sabia que me engolfaria como acontecera depois da partida contra o Swindon. Eu tinha 15 anos, e as lágrimas já não eram uma alternativa válida como haviam sido em 1969; quando soou o apito final , lembro que meus joelhos cederam levemente. Não estava triste pelo time nem pelos outros torcedores, mas por mim mesmo, embora hoje em dia perceba que toda tristeza futebolística assume essa forma. Quando o nosso time perde em Wembley, pensamos nos colegas de trabalho e de escola que teremos de encarar na manhã de segunda-feira, e no delírio que acaba de nos ser negado; nessa hora parece inconcebível que nos permitamos um dia voltar a ficar tão vulneráveis. Eu sentia que não tinha coragem para ser torcedor de futebol. Como eu podia sequer pensar em passar por aquilo novamente?”. (Página 65)

“O jeito com que nossos times jogam é irrelevante para a maioria de nós, da mesma forma que ganhar taças e campeonatos é irrelevante. Poucos de nós escolheram nossos clubes, eles foram simplesmente apresentados a nós; e, sendo assim, quando eles são rebaixados da Segunda Divisão para a Terceira, vendem os melhores jogadores, compram jogadores que você sabe que não podem jogar ou lançam um chuveirinho setecentas vezes na direção de um centroavante de três metros de altura, simplesmente praguejamos, vamos pra casa, ficamos agoniados por uma quinzena e depois voltamos para sofrer tudo isso de novo mais uma vez.” (Página 134)

“Como todo mundo, já lamentei em alto e bom som as deficiências do futebol inglês, e a feiúra permanentemente deprimente do futebol que a seleção nacional joga, mas na verdade, bem lá no fundo, isso é papo de botequim e mais nada. Reclamar de futebol chato é um pouco como reclamar do final triste de Rei Lear: é não entender o principal, de alguma forma. E foi isso que Alan Durban compreendeu: que o futebol é um universo alternativo, tão sério e estressante quanto o trabalho, com as mesmas preocupações, esperanças, decepções e euforias ocasionais. Vou ao futebol por um monte de razões, mas não vou para me divertir, e quando olho em torno num sábado e vejo alguns rostos tristes e apavorados, vejo que outros sentem a mesma coisa. Para o torcedor apaixonado, o futebol-espetáculo existe da mesma forma que aquelas árvores que tombam no meio da selva: você presume que é algo que acontece, mas não tem como apreciar a coisa. Os jornalistas esportivos e os técnicos de botequim são os índios da Amazônia que sabem muito mais do que nós sabemos – mas sob outro aspecto sabem muito, muito menos.” (Página 135)

“Pelo que sei, não existe outro clube inglês que tenha perdido duas finais numa semana, embora nos anos que se seguiram, quando perder uma final era o máximo que os torcedores do Arsenal ousavam almejar, eu viesse a me perguntar por que ficara tão abatido. Mas aquela semana também teve um efeito colateral beneficamente purgativo: após seis semanas seguidas de semifinais e finais, de escuta no rádio e procura por ingressos para Wembley, a confusão do futebol se fora e não havia nada com o que substituí-la. Finalmente tive de pensar no que ia fazer, em vez de no que o técnico do Arsenal ia fazer.” (Página 127)

“Há uma amargura básica na experiência de torcer por um time grande, e não há nada que você possa fazer a respeito afora conviver com isso e aceitar que o esporte profissional tem de ser amargo pra ter algum significado. Mas às vezes é bom tirar umas feriazinhas e imaginar como seria se todos os jogadores do Arsenal houvessem nascido nos distritos N4 ou N5 de Londres, tivessem outros empregos e só jogassem porque adoravam o jogo e o time pelo qual jogavam.” (Páginas 145 e 146)