Grenalzito Fest no quintal da CMPC, em Guaíba

Registro pós-jogo e pré-churras.

Ainda há dignidade e amor à camisa no futebol. Em tempos de Messínico, Neymídia e CRFarsa, alguns poucos abnegados conseguem manter acesa a chama amadora, descoordenada e agressiva à própria saúde em incontáveis e desgraçadas quadras de society pelo Mundo. O Grenalzito faz a sua parte. No último sábado, 5, em Guaíba, Berço da Revolução Farroupilha e quintal malcheiroso da CMPC, aconteceu mais uma Grenalzito Fest – e todas as dores e delícias que dela sempre decorrem.

O espetáculo de futebol e churrascada ocorreu no bairro Ermo, a poucos metros do Matadouro São Geraldo, monumento histórico em ruínas, bela metáfora para o futebol assassinado pela carcaça degradada da maioria dos jogadores presentes.

Registramos, desde já, a participação fundamental de Seu Duarte, assador inconteste, Cintia e Vivian, integrantes do núcleo feminino do Grenalzito, Henrique e Fernandãozinho, uma nova geração grenalzística que desponta, e, claro, do magrão da copa, que emprestou um ar subversivo e NOIR com a neblina oriunda do cigarro que jamais se apagou em sua boca, apesar das placas de PROIBIDO FUMAR espalhadas pelo prédio.

É claro que precisamos falar sobre as ausências. E como foram sentidas… Mau, o nosso Pós-Hippie-Esquerdo-Rasta, embrenhou-se em alguma floresta inóspita, munido de apenas uma pá de coveiro, para construir pistas e rampas alucinógenas aos amigos da LBRMX, tal qual um guri que ergue seu primeiro circuito de tampicross na praça em frente à casa; Anônimo, o hater mais amado do Brasil, alinhou dezoito televisores e assistiu, simultaneamente, a todas as finais de GRAND SLAM da história do tênis e a todos os PLAY OFFS da história da NBA – o que nos garante consultas sobre as duas modalidades no grupo do WhatsApp até o ano de 2050; e o nosso capitão, Gonça, teve a natural OMISSÃO justificada por motivos de FRAGILIDADE PATELAR, o que foi lamentado por todos e recomendado, em ata, a realização de um HOTDOGAÇO em sua homenagem, em data e local ainda não definidos.

De resto, vale destacar o número de gols marcados ter sido menor do que o de quilos de carne consumidos no churrasco, a inusitada jogada ensaiada envolvendo a utilização de uma chave de automóvel e o fato de os duzentos mil metros cúbicos de oxigênio locados para o evento acabarem temerariamente dispensados por todos os atletas. Feitas as devidas introduções, passemos às avaliações parciais e nada coerentes sobre cada um dos jogadores:

FELIPE – Uma das maiores atuações de um goleiro na história do Grenalzito. Certa rispidez desnecessária nas divididas com atacantes, mas naturais para um TRETEIRO de carteirinha. Teria sido o melhor em campo, caso não tivesse caído em desgraça nos últimos segundos, sofrendo um gol do FÁBIO.

JEF CONTI – A liderança de sempre, aliada àquela violência comedida que se vê em volantes argentinos e uruguaios. Teve sua cotação aumentada pelo crítico após os elogios a Guaíba, cidade que não via há muito tempo. Protagonizou, em dado momento da partida, o primeiro DESARME MORAL da história do futebol, ao desautorizar as intimidações que Fernandão, do time adversário, jogava sobre seus companheiros.

PEROTTO – Escolhido, por unanimidade, o melhor em campo. Foi o Ramirinho do time, único atleta de linha que dispensou substituições, promoveu amplitude, distribuiu passes quartas-de-finais e semifinais, além de deixar sua marca no placar. A mobilização pré-jogo também deve ser destacada. Uma liderança que se afirma no escrete azul, vermelho e preto.

GUILHERME – Sobreviveu ao jogo, o que já merece uma menção honrosa. Há relatos de que nesta terça-feira ainda sofre cobranças da asma. ENGANCHE vaga-lume, alternando lampejos bissextos com omissões retumbantes. Algumas janelinhas incompletas. A mais marcante, sem dúvida, entre as pernas do Fábio.

FÁBIO – Fez, dos três gols marcados, verdadeiros acontecimentos. É o CR7 do Grenalzito: sabe valorizar cada uma de suas jogadas como se fosse a invenção de algo maravilhoso. Tem a mesma habilidade para ignorar solenemente os próprios erros, quando lembra centroavantes como WARLEY e LUIS CLÁUDIO. Por ter colocado a saúde em risco atuando em quase todo o jogo, ter sido o anfitrião e protagonista, junto com Cintia, na jogada NON SENSE em parceria com a chave do carro, merece posição de destaque.

FERNANDÃO – A liderança técnica de sempre. Simulou um atraso, supostamente dedicado à procura de um açougue, para atuar apenas em parte do jogo. O que muitos consideraram um tique-nervoso afetado da mão segurando o calção o tempo todo, na verdade foi confirmado depois como uma lesão na virilha, o que diz muito sobre a entrega incansável que dedica ao manto grenalzístico.

EZIO – Algumas defesas muito interessantes no aquecimento e nos primeiros chutes recebidos. Logo desmentidas pela velocidade distinta da bola que imprimiu durante todo o jogo. Já está marcado na história do Grenalzito, com os 14 gols sofridos, como o goleiro mais vazado de todos os tempos em uma só partida.     

BRUNO – Um dos principais artilheiros da partida. A patada de canhota é uma de suas armas, sendo utilizada indiscriminadamente para chutes ou passes. Ao lado de Perotto, mostrou um preparo físico incomum, uma das revelações Sub-40 do confronto. Deve ser convocado para as próximas apresentações do Grenalzito.

HENRIQUE – Uma das aquisições mais jovens da equipe, integra o projeto Grenalzito Amanhã, celeiro de promessas observadas por nossos olheiros em todo o Mundo. Compensou a falta de velocidade com boa técnica, passes precisos e drible curto. Certamente receberá novas oportunidades no futuro.

JONAS – Outro jovem atleta integrado ao quadro grenalzístico. Claramente atuando numa rotação maior do que todos os outros jogadores da partida, adversários ou companheiros de equipe, que sofreram com sua velocidade. Canhoto daqueles chatos de marcar, que não param em campo. Boa TRANSIÇÃO nos contra-ataques.

OTTO – Depois de um começo discreto, cresceu muito na metade final, marcando gols, arrastando defensores e ampliando significativamente os números registrados na goleira de Ezio. Características semelhantes ao seu xará e destaque por anos do RockGol da MTV, o cantor pernambucano Otto, famigerado centroavante da cena musical. Outra revelação Sub-40 da partida.

LUCIANO – Um dos mais experientes atletas do jogo, movimentou-se incessante e delirantemente pelo campo, aguentando muito mais do que atletas mais jovens. Fez um gol de puro oportunismo, em rebote de Felipe na marca penal. Participação também destacada por todos na resenha pós-jogo.