Segue em busca de teu sonho centenário

Fui dar uma banda lá pelo Grêmio Copero e dei de cara com um texto de Eduardo Bueno, o Peninha, escrito a quatro mãos com seu irmão, Fernando.

É uma homenagem ao co-irmão. Deleitem-se:
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Faz cem anos, mas parece que foi hoje.Um século exato se passou desde que apareceste de surpresa e logo foste bater pela primeira vez à nossa porta. Como toda a visita inesperada, causaste certo desassossego, assim como o desembarque de recém-nascido em família constituída provoca alvoroço. Além do mais, chegaste com boa dose de empáfia. Teu tom desafiador era direto e explícito. Mas acima de tudo, e disso nunca duvidamos, vieste com admiração e encanto. Estavas fascinado: querias ser como teu irmão mais velho e a forma que encontraste para chamar a atenção foi.. desafiá-lo.

Brioso como o mosqueteiro, o Grêmio sempre primou por travar batalhas com seus pares e aquele não era o caso: recém-saído das fraldas, tu ainda tropeçavas nas próprias pernas. Te oferecemos então nosso “segundo quadro” (afinal, já estávamos interessados em objetivos maiores). Te exaltaste, lembras bem? Tomaste nossa generosidade por desplante. Imberbe que eras, olhaste com desdém para a altiva barbicha de Augusto Koch, nosso presidente.

Fingindo não ver as espinhas de teu presidente-adolescente, José Leopoldo Serefin, um menino de 18 anos, cheio de ilusões, Koch pensou em falar com os co-fundadores, os irmãos Poppe. Mas os irmãos Poppe, cáspite, eram… forasteiros: vindos de terras bandeirantes, estavam pouco afeitos às lides e aos lemas locais. E também eles se revelaram intransigentes: “O primeiro quadro!” bradaram, em uníssono. E Koch, magnânimo, assentiu, com uma advertência: o tradicional baile pós-jogo seria por conta do Grêmio. Dizem as más línguas que te indignaste com o fato de o baile ter sido antecipado e não gostaste de dançar antes da hora, dentro das quatro linhas.

Tomaste 10 a 0, te recordas? Para Serefin foi demais, e o garoto desistiu.

Mas tu, encarnado nos Poppe e nos rubros brios dos irmãos Vinholes, tu não! Sacudiste a poeira e foste em frente – e, sabem os deuses, te admiramos por isso. Propuseste então um novo desafio – e levaste cinco.

Mas teu desejo incontido de emular o Grêmio também em sua imortalidade voltou a falar mais alto e insististe em um novo round. Levaste dez de novo, mas daquela vez, benza Deus, fizeste um “golo”. A proeza, nunca olvidaste, foi obra do persistente Vinholes, um dos irmãos-fundadores – o que jogava na ponta. Quando aquele balão de couro enfim estufou as redes imaginárias da meta tricolor – estabelecendo o placar de 25 x 1 em três jogos – , teus desejos se tornaram realidade: viste que teu sonho de equiparar-se ao Grêmio não era só fantasia obsessiva.

E assim obtiveste força para seguir em frente na cidade que pacientemente te acolheu e que assistiu teus primeiros passos, teus primeiros tombos, tua primeira aula, tuas primeiras dúvidas, primeiras dividas, primeiras divididas. Tuas primeiras surras. Teu primeiro gol!

Cem anos se passaram e, ao longo de todo esse século, em nenhum só minuto, em nenhum só jogo, em qualquer canto desse planeta azul, deixaste de estar decidido a imitar nossas façanhas, que aliás sempre serviram de modelo à toda a Terra. Teu fervor é comovente e só pode nos encher de orgulho. Continues tentando, caro Inter, e com a fibra típica do gaúcho que és – embalado pelo exemplo do incansável encarnado Vinholes, –, haverás um dia de chegar lá. Afinal, bem sabes hoje, cem anos passam num tapa.

Recebe nosso fraterno abraço, jovem co-irmão.E também um tapinha nas costas, que ainda tens força para tanto e muito mais.

Os Blues Brothers Fernando e Eduardo Bueno