Sobre ídolos e decepções

O Campeonato Brasileiro de Futebol é podre. Em diversos aspectos. Arbitragem, dirigentes, entidade organizadora, monopólio de transmissão, preço dos ingressos, segurança, entrega de jogos, punições disciplinares, etc.

Quem escreve isso é um torcedor do Sport Club Internacional, três vezes campeão desta competição, uma de forma invicta. E “na fila” pela taça nacional há 31 anos. Então tá explicado. “Só reclama porque não ganha, se fosse campeão diria que era o melhor campeonato do mundo”.
Pior que não.
Não conseguiria, por exemplo, achar legal ver meu time entregar um jogo para prejudicar o maior rival. Ou torcer contra o meu próprio time. Não comemoraria da mesma maneira um título claramente manchado pelo tapetão. Não acharia normal (ou pior, adoraria) que uma série de eventos fosse acobertada pela mídia em benefício de alguns clubes.

Já tive ídolos no futebol. Ídolos colorados, ídolos da Seleção Brasileira, ídolos de outros países. Mesmo sabendo parcialmente de como funcionava a maquinária futebolística (na infância o contexto escapa facilmente), aqueles caras vestindo uniformes pareciam flutuar acima de qualquer pequeneza mundana. Organizações, corporações, patrocinadores, empresas de material esportivo, doping, mulheres, carros, transações, direitos federativos… isso deveria ser nada comparado ao fato de que aqueles homens foram escolhidos para praticar o esporte que nós amamos. Amamos odiar muitas vezes, mais ainda assim amamos. Ou amávamos.

Hoje enxergo camisetas e escudos. Não há rostos ou pessoas. Apenas uniformes históricos de clubes gigantescos, com seus ídolos e torcedores do passado, que insistem em resistir. E mesmo nas arquibancadas não há muitos destes torcedores. Para cada 20 mil brancos de classe média com seus filhos, esposas e carros de classe média, há 10 torcedores de futebol. Para cada 2 mil pré e pós adolescentes drogados (e brancos) nas torcidas organizadas, há 5 torcedores idosos, meio embriagados e nos setores mais baratos dos estádios. Que nem existem mais.
Meu afilhado está prestes a completar o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro 2010. Tenho vontade de ensinar para ele quem foram Andy Hug, Rickson Gracie, Don Frye, Fedor Emelianenko, ao invés de Pelé, Beckenbauer, Garrincha, Maradona, Cruyff… Acho que ele teria menos decepções quando adulto.