Cartas para meu filho – Entre a memória e a realidade há um oceano

Meu reino por uma foto da primeira vez que fui ao Beira-Rio. Segundo estudos antropológicos entre os arquivos da memória do teu avô, provavelmente tenha ido a primeira vez entre 3 e 4 anos (e ele não faz ideia de qual jogo foi). Puxando pela minha memória, o primeiro jogo que tenho lembrança é épico: a final da Copa do Brasil de 92, Inter 1 Fluminense 0 com gol agônico, de pênalti, quase no final do tempo normal. Inclusive lembro daquela semana: gol do Caíco nas Laranjeiras e derrota por 2 a 1; no sábado fomos ao Beira-Rio e meu padrinho me deu uma camiseta oficial número 8 do Elson; e no domingo o título. Lembro de ser um dia quente, porém quando a noite chegou, a temperatura despencou. Na manhã seguinte estava com caxumba e fiquei de molho em casa, comemorando.

Agora o lance é que muitas destas informações podem estar embaralhadas ou desencontradas. O horário do jogo, os dias da semana de cada fato, os autores dos gols e das jogadas, quem foi contigo no jogo… Tudo vira um grande emaranhado na triangulação mágica entre o que tu lembra, o que aconteceu de fato e o que te contaram. Fora a decepção de pesquisar na internet e ver que todas aquelas histórias que tu palestra na resenha pós-pelada estavam trocadas.

DITO ISSO, rapaz, vamos registrar as tuas primeiras idas ao Gigante da Beira-Rio nessa carta. Não precisa me agradecer, mas em todo caso, de nada.

Foram 2 jogos contra o Palmeiras de Abel Ferreira, o time mais hegemônico dos últimos anos no Brasil, e nenhum gol sofrido! Começamos bem.

Inter 3
Palmeiras 0

13 de novembro de 2022

Última rodada do Brasileirão de 22 entre o campeão, Palmeiras, e o vice, Inter. Já não poderíamos mais alcançá-los, mas dava pra carimbar a faixa. Primeiro tempo de luxo de Alemão e Maurício (um gol e uma assistência pra cada) e o terceiro gol de um tal de Braian Romero que quando tu for adolescente nós nunca vamos conseguir lembrar quem foi esse cidadão. Pelo lado deles seria o jogo de despedida de Gustavo Scarpa, melhor jogador do campeonato, e um dos primeiros jogos como titular de um tal de Endrick, então com 16 anos. A escalação que te levou ao jogo incluem pai e mãe, devidamente preparados para comprar várias comidas e com alguns Hot Wheels escondidos na mochila. Primeira vitória da mamãe no Gigante!

Momentos memoráveis: xingar a torcida do Palmeiras (SEM MUNDIAL), ajudar a descer a faixa da torcida organizada, ficar procurando onde tava o Saci, comer pastel e pipoca.

Inter 0
Palmeiras 0

16 de julho de 23

Chegando ao final do primeiro turno do Brasileirão 23 tudo o que tínhamos imaginado que daria certo deu errado. Apesar de manter a base do time que havia feito um bom segundo semestre na temporada anterior, Mano Menezes não conseguia mais encontrar soluções (e foi substituído por isso). Primeiro jogo de Enner Valencia como titular em casa e atuação muito boa de John no gol, garantindo o empate e incluindo um drible em Endrick quase dentro da pequena área (?). Um jogo sem muitas emoções, mas com estádio lotado para conferir a estreia do reforço equatoriano. Nossa escalação desta vez teve uma substituição: sai Mãe e entra Vô Neni, reunindo 3 gerações pra ver o Inter. Nunca é só futebol.

Momentos memoráveis: desta vez rolou balde de pipoca MEIO A MEIO (que já nasce um clássico), picolé e amendoim. O intestino resistiu melhor do que Mano Menezes no cargo. Aliás, sobre isso: ao final do jogo uma parte do estádio começou a pedir a demissão do técnico e outra parte estava xingando quem estava pedindo isso, inclusive com alguns torcedores se estranhando de fato!

O Inter, meu filho, o Inter…